quinta-feira, 20 de agosto de 2009


Será lançado, no próximo sábado, dia 22, às 20h, no Pouso da Palavra, em Cachoeira, o livro O Poder dos Candomblés – Perseguições e Resistência no Recôncavo da Bahia, de autoria professor e mestre em Estudos Étnicos e Africanos, Edmar Ferreira Santos. A obra, publicada pela EDUFBA (Editora da Universidade Federal da Bahia), é fruto de um estudo do autor sobre as perseguições da imprensa baiana contra os Candomblés, desenvolvido como tese de mestrado defendida em outubro de 2007 no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos, do (CEAO) Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia. O prefácio do livro foi escrito pelo professor, doutor Luis Nicolau Parés, a capa é autoria de Damário da Cruz.

Em que pese à notoriedade da cidade de Cachoeira como a “terra da macumba” ou a “cidade do feitiço”, este estudo é pioneiro em focalizar a criação dessa imagem, ou seja, as formas de produção, mediação, recepção e circulação das representações ou das formas simbólicas dessa imaginação coletiva. Nesse sentido, o livro texto essa construção em meio às perseguições ao povo-de-santo e suas reações e articulações com o poder.

No livro, Edmar Ferreira Santos, faz uma análise dos discursos e representações que figuraram nas páginas dos jornais da cidade de Cachoeira, cidade histórica do Recôncavo baiano, situada a 110 km de Salvado, sobre as práticas culturais e religiosas de matriz africana nas primeiras décadas do século XX. “Com esse trabalho, procuro demonstrar a complexidade dos argumentos dos setores letrados da Bahia contra os Candomblés, dissimulando o racismo indelével presente em textos e atitudes dos articulistas”, explica o autor que é graduado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)

Investigam-se os interesses políticos e econômicos dos jornais, bem como, as motivações de diferentes indivíduos e grupos sociais relacionados às redações. “Assim, perseguimos, por um lado, a trajetória de jornalistas, médicos e políticos, por outro lado, as experiências de ogans, pais e, especialmente, mães-de-santo, que souberam utilizar em seu favor as disputas políticas das elites, silenciando em momentos específicos, constituindo alianças, persistindo na manutenção de sua religiosidade e do seu jeito de festejar. Dessa maneira, os indivíduos que davam corpo as práticas culturais e religiosas afro-baianas forjaram estratégias de resistência declarada ou sub-reptícia contra os que desejavam o fim dos Candomblés”, diz o autor.

Para isso, o historiador Edmar Ferreira Santos conta que durante a sua pesquisa, procurou situar a imprensa como locus privilegiado para a compreensão dos movimentos e debates que configuravam o cenário social da cidade no período estudado. O objetivo, segundo ele, “foi recuperar as dinâmicas sociais que constituíam as representações sobre as práticas culturais e religiosas afro-baianas nas três primeiras décadas do século XX e a correlação de forças sociais que fizeram dos candomblés, tema de disputas, materiais e simbólicas, pelo real e imaginário da cidade”. “Nas linhas e entrelinhas, buscaram-se também histórias individuais e de grupos sociais. Perseguidores, defensores e perseguidos. Tensões e estratégias de resistência. Alianças e dissensões”, ele complementa.

O objetivo do estudo de acordo com o pesquisador, foi de apresentar diferentes visões de um mesmo fato – o lugar das práticas lúdicas e religiosas afro-baianas para a sociedade cachoeirana nas décadas iniciais do século XX. “A experiência e as vozes de diversos atores foram recuperadas para nos informar sobre esse lugar. Mães e pais-de-santo, ogans, equedes, filhas e filhos-de-santo, sambadores e sambadoras, batuqueiras e batuqueiros, policiais, jornalistas, professores, advogados, médicos, políticos e um maestro. O Estado, através da legislação então vigente, também foi convidado a falar”.

Utilizando o cruzamento de fontes escritas e orais, o autor buscou desenhar uma geografia dos candomblés de Cachoeira nas três primeiras décadas do século XX. “Não obstante, mais do que determinar as suas localizações, perseguimos as experiências compartilhadas em espaços forjados no conflito pela sobrevivência e, também, pela existência. Na década de 1920, com a enérgica entrada em cena da polícia contra os terreiros, muitos candomblés silenciaram temporariamente”, observa Edmar Ferreira Santos. “Contudo, os bozós (oferendas para os orixás e voduns depositadas em vias públicas) infestaram a cidade e a imprensa encontrou outro argumento de relevância na campanha contra os candomblés– a higiene e a limpeza pública. Dessa maneira, através do bozó, analisamos a resistência silenciosa dos candomblés. O recurso propiciatório e misterioso do bozó demonstrava que uma batalha poderia ter sido perdida, mas, a luta pela liberdade religiosa, a luta pela existência e persistência de valores civilizatórios afro-baianos não estava terminada”.

O historiador explica ainda que utilizou no seu estudo da tradição oral e da memória da perseguição aos candomblés locais, “o que nos possibilitou conhecer melhor as territorialidades dos batuques e das práticas religiosas, a intimidade de alguns terreiros, bem como, elucidar sinais obscuros na documentação escrita”. Edmar Ferreira Santos também consultou documentos preservados em arquivos pessoais que, na medida em que eram apresentados, segundo ele, suscitavam diferentes histórias. “Enfim, utilizando a tradição oral e esses documentos, foi possível saber mais sobre as pessoas de carne e osso que os jornais, algumas vezes, mencionavam apenas os nomes”, conclui o autor.


Serviços:
Lançamento:
Dia 22(sábado)
Horário 20h
Local: Pouso da Palvra Cachoeira- Bahia
Título: O Poder dos Candomblés: Perseguição e Resistência no Recôncavo da Bahia.
Autor: Edmar Ferreira Santos
Editora: EDUFBA
Prefácio: Prof. Dr. Luis Nicolau Parés
Capa: Damário Dacruz (foto da mão de Gaiaku Luiza)