segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Cachoeiranos mantêm a tradição do presépio natalino

Em Cachoeira, cidade histórica tombada como Monumento Nacional pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional, situada a 110 km de Salvador no Recôncavo baiano, algumas famílias ainda mantêm viva a tradição do presépio de Natal. A tradicional homenagem artística que relembra o nascimento de Jesus Cristo em um estábulo pode ser visitada até quarta-feira, dia 6 de janeiro, dedicado aos Três Reis Magos do Oriente, personagens bíblicos para os quais a presença do Cristo na terra teria se manifestado por meio de uma estrela. Os cachoeiranos que não deixaram morrer a tradição cristã fazem questão de abrir as portas de suas casas para a visitação ao presépio.

Na antiga Rua do Sabão, nos arredores da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, atualmente desativada e em avançada estado de degradação, em sua casa, a aposentada Carmelita Santos Ramos, de 81 anos de idade, faz questão de mostrar o presépio que monta há mais de seis décadas. Dona Carmelita conta que herdou do pai, a tradição de montar todos os anos, o presépio de natal. A instalação ocupa praticamente todo o espaço da pequena sala. O presépio de dona Carmelita possui cerca de 300 peças, incluindo as imagens do menino Jesus deitado na manjedoura; Maria e José, além dos três reis Magos Melchior, Gaspar e Baltazar. Consideradas como as principais imagens do presépio, essas peças confeccionadas em gesso, pertenceram às tias de dona Carmelita, que no passado,t as repassaram para o seu pai.

“Eu faço tudo isso com muito gosto e amor”, declara Dona Carmelita, ao mesmo tempo em que se queixa da falta de interesse dos mais novos pela tradição. “As pessoas perderam o gosto pelas tradições e as crianças de hoje pensam que o presépio é uma brincadeira”, ela reclama. O tradicional presépio começa a ser montado na segunda semana de dezembro. “É para ficar todo pronto no dia 24 véspera do Natal”, adianta-se aposentada que guarda todas as peças cuidadosamente em caixas de papelão. No presépio que recria o nascimento de Jesus Cristo, além da gruta onde Maria dera luz ao filho de Deus, Carmelita deixa a imaginação correr livre. Na areia da praia espalhada em frente a gruta construída com papel metro imitando rochas, ela espalha bonecas, serias, cavalinhos, soldados, patos e no alto do morro de papel são colocadas casinhas multicoloridas

Não muito longe da casa de Dona Carmelita, na Rua do Dendê, vizinho à sede do Esporte Clube Bangu, Nivaldo Santos, 36 anos, assegura tradição do presépio também iniciada pelo pai. Com cuidado e carinho, ele cuida de todos os detalhes do ambiente recriado do nascimento de Jesus Cristo. O encantamento e a beleza dos presépios são realçados pelas lâmpadas do pisca-pisca. Detalhe que Nivaldo faz questão de exagerar. “Sem luz não há beleza no presépio”, diz enquanto arruma as figuras. Na Rua da Santa Casa de Misericórdia, mais duas famílias montam presépio e recebem visitas. Em das casas, a da família Maia, o presépio ocupa quase toda sala da antiga casa. “Se depender de nossa família, a tradição não vai desaparecer”, afirma uma das donas da casa. Na Rua Ana Nery, na vizinhança da Igreja Matriz, o funcionário público aposentado Gilberto Simões, 83 anos, também preserva a tradição do presépio que pode ser visto por visitantes até o início do próximo mês. "Eu só desmonto o presépio depois do dia 4 de feveiro, data do meu aniversário", explica o aposentado.

O início da tradição- Os cristãos já celebravam a memória do nascimento de Jesus desde finais do séc. III, mas a tradição do presépio, na sua forma atual, tem as suas origens no século XVI. Antes dessa época, o nascimento e a adoração ao Menino Jesus eram representadas de outras maneiras. As primeiras imagens do que hoje conhecemos como presépio de natal foram criadas em mosaicos no interior de igrejas e templos no século VI e, no século seguinte, a primeira réplica da gruta no Ocidente foi construída em Roma.

No ano de 1223, no lugar da tradicional celebração do natal na igreja, São Francisco, tentando reviver a ocasião do nascimento do Menino Jesus, festejou a véspera do Natal com os seus irmãos e cidadãos de Assis na floresta de Greccio. São Francisco começou então a divulgar a idéia de criar figuras em barro que representassem o ambiente do nascimento de Jesus.

De lá pra cá, não há dúvidas que a tradição do presépio natalino se difundiu pelo mundo criando uma ligação com a festa do Natal. Já no século XVIII, a recriação da cena do nascimento de Jesus estava completamente inserida nas tradições de Nápoles e da Península Ibérica.

Neste mesmo século, vindo de Nápoles, o hábito de manter o presépio nas salas dos lares com figuras de barro ou madeira difundiu-se por toda a Europa e de lá chegou ao Brasil. Hoje, nas igrejas e nos lares cristãos de todo o mundo são montados presépios recordando o nascimento do Menino Jesus, com imagens, de madeira, barro ou plástico, em tamanhos diversos.