quinta-feira, 3 de julho de 2014

Parceria científica entre UFRB e UFMG desenvolve novo tratamento das leishmanioses


A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em parceria científica com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolve estratégia terapêutica inovadora para o tratamento das leishmanioses, conjunto de doenças causado por protozoários do gênero Leishmania, transmitido por insetos hematófagos (que se alimentam de sangue) e potencialmente letal. A pesquisa é desenvolvida desde 2009.

O trabalho é realizado pelo Grupo de Pesquisas e Desenvolvimento de Medicamentos Leishmanicidas e se dedica ao desenvolvimento de novos produtos biotecnológicos, baseados em nanotecnologia, aplicados ao tratamento das leishmanioses. A parceria já resultou em dezenas de publicações ao longo de cinco anos, com destaque para um Depósito de Patente na área de Saúde no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em 2012 e, recentemente, junho de 2014, uma publicação no periódico de alto impacto científico, Informa Healthcare.

Segundo um dos pesquisadores, Raul Ribeiro, professor do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas (CCAAB/UFRB), a pesquisa é um tratamento inovador para as leishmanioses, pois se trata de um medicamento administrado por via intravenosa, o que o torna mais eficaz e de baixo custo, pois é produzido, com uso da nanobiotecnologia, a partir de medicamentos já existentes.

“Quando esses fármacos já existentes são associados a sistemas nanoestruturados (de tamanho nanométrico, biodegradáveis e biocampatíveis), conhecidos como sistemas carreadores de fármacos, modifica-se totalmente a distribuição do fármaco no corpo do paciente. Portanto, faz o medicamento atingir elevadas concentrações somente naqueles órgãos/tecidos de interesse, o que naturalmente resulta em aumento de eficácia e diminuição da toxicidade”, explicou o pesquisador.

O novo tratamento, registrado com o nome de Formulação Farmacêutica Compreendendo Lipossomas Convencionais e Lipossomas de Circulação Prolongada como Sistema Entregador de Fármacos Leishmanicidas, encontra-se em fase de ajustes de protocolos. Os estudos agora estão direcionados para a definição do melhor regime terapêutico (doses e frequências de uso). “A equipe de inventores está bastante motivada a seguir desenvolvendo a tecnologia de maneira a possibilitar, futuramente, a transferência do seu privilégio de exploração ao setor privado”, finalizou o professor Raul Ribeiro.

Relevância do tema e das pesquisas realizadas

As leishmanioses são consideradas doenças negligenciadas pelo fato de afetar milhões de pessoas ao redor do mundo, sobretudo indivíduos pobres e residentes em países em desenvolvimento, como o Brasil, gerar impacto devastador sobre a humanidade e não dispor de tratamentos eficazes ou adequados. Considerando que não há vacinas de uso humano licenciadas, a quimioterapia segue como o principal método de controle de todas as formas clínicas das leishmanioses em humanos.

Atualmente, os medicamentos utilizados na terapia das leishmanioses apresentam vários problemas, incluindo toxicidade e efeitos adversos, os quais favorecem a descontinuidade do tratamento e o aparecimento de cepas resistentes. Ademais, o arsenal químico disponível é restrito, insatisfatório e de alto custo. Até então, as tentativas científicas para o desenvolvimento de terapias eficientes não tem sido bem sucedidas e o vasto conhecimento acerca do parasito não tem se traduzido em desenvolvimento de novos fármacos.

De acordo com a pesquisa da UFRB e UFMG, o Brasil registra cerca de 90% dos casos de Leishmaniose Visceral (LV) na América Latina e, juntamente com Etiópia, Sudão, Índia, Nepal e Bangladesh, mais de 90% da incidência anual de LV no mundo. Apesar dos esforços no controle de vetores e reservatórios caninos, fontes oficiais brasileiras reconhecem que a LV encontra-se em rápida expansão territorial e crescente mortalidade, acometendo indivíduos de diferentes grupos etários, inclusive de forma oportunista em pacientes com AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida), à semelhança do que se observa no sul da Europa.


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