quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Discurso do advogado Cândido Augusto Vaccarezza neto do fundador do Cine Theatro Cachoeirano



Heróica Cidade da Cachoeira, 12 de agosto de 2015.

AGRADECIMENTO, POR HOMENAGEM PRESTADA PELO MUNICÍPIO DA CACHOEIRA AO FUNDADOR DO CINE THEATRO CACHOEIRANO, Dr. CÂNDIDO ELPÍDIO VACCAREZZA.


Cândido Augusto Vaccarezza – Delegado de Polícia Civil da Bahia (aposentado).


Autoridades presentes e representadas, senhoras e senhores

Convidado pelo muito respeitável Secretário da Cultura do Município de Cachoeira, Dr. José Luiz Anunciação Bernardo, na pessoa de quem expresso profundo agradecimento ao Excelentíssimo Prefeito, jovem e laborioso Senhor Carlos Menezes Pereira, o que o faço, representando com muita honra, todos os descendentes do homenageado, Doutor Cândido Elpídio Vaccarezza, fundador desta magnífica casa de espetáculo, denominada Cine Theatro Cachoeirano, por este significativo ato de reconhecimento público, representado pela colocação da sua fotografia, nobremente emoldurada, encimando a placa indicativa do seu nome, e datas extremas da sua profícua existência: nascimento e falecimento.
No dizer do pesquisador e jornalista, Jorge Ramos, “Cândido Elpídio Vaccarezza foi um grande empreendedor e foi prefeito de Cachoeira. Era médico e incorporava tecnologias. Ele comprou um gerador de energia elétrica para poder exibir filmes, cinco anos antes de a luz elétrica chegar à cidade.”
Cabe o oportuno esclarecimento de que o hoje homenageado, no ano de 1923, foi Presidente da Câmara da “Heróica” Cidade da Cachoeira e, nos anos de 1926 a 1927, foi o 9º Intendente do Município, como era denominado quem o administrava, e em 1931, seu primeiro Prefeito, segundo pesquisa relatada por Francisco José de Mello, em sua obra “História da Cidade da Cachoeira”, elaborada “com meticulosidade, paciência, cultura e zelo”, no dizer de quem a prefaciou, o inesquecível Egberto Guimarães Melo.
Da referida obra, pela riqueza da pesquisa realizada, peço licença ao autor para reproduzir o seguinte relato sobre o Lazer da Cachoeira no Passado: “Um grupo de cidadãos, em 1859, resolveu instalar seu teatro, fundando para tal a SOCIEDADE UNIÃO CACHOEIRANA. A comissão organizada para construir o teatro foi constituída pelos seguintes cidadãos: Christovão Pereira Mascarenhas – Presidente, Francisco Quirino Bastos – Secretário, Lino Martins Bastos – Tesoureiro, Francisco Melchiades de Cerqueira e Jesuíno da Silva Gomes – Diretores.
No dia 7 de maio de 1859, foi lançada a primeira pedra para a construção do almejado Teatro. O local escolhido foi o Alto da Conceição do Monte. Seus alicerces foram construídos, porém o empreendimento não teve o sucesso esperado.
Há indícios de ter existido, na época, outro Teatro. Embora não tendo encontrado qualquer registro sobre a data de sua fundação, um fato demonstra sua existência. No relato da visita de D. Pedro II à Cachoeira, encontramos o seguinte trecho: - “No dia 8 de novembro de 1859, D. Pedro II depois de visitar a Câmara Municipal, visitou a Cadeia, o Teatro e a praça do Mercado.”
Existe outro dado que indica tal existência. É na História da Imprensa da Cachoeira. É ele o registro da publicação de um único número do Jornal de Título TRIBUTO À ATRIZ MARION, em 1886, uma homenagem à atriz Marion. Logicamente existindo a atriz, devia existir o Teatro.
Depois do fracasso da instalação do projetado Teatro do Alto do Monte, o Engenheiro Ervídio de Souza Velho, em 1894, organizou, com outros companheiros, a EMPRESA TEATRAL PARAGUASSU, cuja instalação teve lugar a 21 de janeiro do mesmo ano, no prédio nº 1, da Rua Rui Barbosa, onde funcionava o CLUBE DE INSTRUÇÃO, no qual haviam sido realizados espetáculos teatrais, com Artistas Amadores.
Presidiu a Assembléia Geral, por aclamação, o Dr. Aristides Milton, tendo como Secretários o Dr. Júlio Soares de Pinho e o Jornalista Genésio de Souza Pitanga.
A primeira Diretoria da EMPRESA TEATRAL PARAGUASSU ficou assim constituída – Capitão Manoel Batista Leone – Presidente; Dr. Júlio Soares de Pinho – Secretário; Capitão Sancho José da Costa – Tesoureiro; Comissão Fiscal – Dr. Cândido Elpídio Vaccarezza, Major Batista de Oliveira Rabello e Dr. Servílio Mário da Silva.
Foi arrecadada a importância de 7.500$000 que foi depositada no Banco Mercantil. A finalidade da EMPRESA TEATRAL PARAGUASSU era promover a construção de um novo Teatro moderno. (Vê-se que, nesse registro, fala-se na construção de um novo teatro, o que se evidencia a existência anterior de outro).
Com a falência do Banco Mercantil, em 1906, o Tesoureiro da EMPRESA TEATRAL PARAGUASSU ainda conseguiu salvar a importância de 1.899$000, que foi depositada na Caixa Econômica Federal, na Conta nº 8541, sendo que seus rendimentos em julho de 1919, com juros acumulados, conseguiu atingir a soma de 5.247$212.
Em 26 de setembro de 1919, foi eleita uma nova Diretoria, assim constituída: Archimedes Ferraz Moreira – Presidente; Severiano Rodolfo de Freitas – Secretário; Dr. Cândido Elpídio Vaccarezza – Tesoureiro, incumbida de realizar a construção do Teatro.
Foram, então, arrematados em hasta pública os prédios situados à Praça Teixeira de Freitas e Rua 13 de Maio, pertencentes a Antônio Augusto da Silva e à família Regadas, respectivamente.
As despesas com a construção se elevaram bastante e era necessário um reforço de capital para sua conclusão. Foram, então, convidados pela imprensa os acionistas da Empresa para se cotizarem com mais 10%, que permitiriam a conclusão do almejado Teatro. O não atendimento dos acionistas obrigou a direção da Empresa a promover sua liquidação em uma decisão tomada em 2 de abril de 1923, sendo incumbido do processo o Dr. Artur de Almeida Boaventura.
A maior soma de recursos investida no projeto tinha sido feita pelo Dr. Cândido Elpídio Vaccarezza. Por esta razão, estando as obras bastante adiantadas, ele assumiu a responsabilidade de indenizar os demais acionistas para a liquidação da Empresa e, sozinho, concluiu a construção do Teatro, que coincidia com a introdução do cinema no Brasil.
No dia 12 de agosto de 1923, era inaugurado festivamente o CINE THEATRO CACHOEIRANO, considerado, na época, a melhor Casa de Espetáculos do Interior da Bahia, graças ao esforço do visionário Dr. Cândido Elpídio Vaccarezza.
Como novidade, o cinema operou com energia própria, através de um gerador a diesel. O filme focalizado na inauguração foi a película da PARAMOUNT de título DE APACHE A HOMEM DE BEM. Era, ainda, a fase do cinema mudo.
A renda do espetáculo foi de 800$000, que o Dr. Vaccarezza doou à Santa Casa de Misericórdia.”
Em 26 de julho de 1936, no curso da sua gestão, quando Prefeito, foi inaugurado o estabelecimento que já foi denominado de Escolas Reunidas Montezuma e Grupo Escolar Montezuma, uma das mais antigas de Cachoeira.
Este é o perfil do fundador do Cine Theatro Cachoeirano, traçado, dentre outros, pelo autor de História da Cidade da Cachoeira.
Cândido Elpídio Vaccarezza, nasceu em 02 de setembro de 1865, na Cidade da Cachoeira onde onde foi sepultado, por ter falecido no dia 15 de julho de 1945, em Salvador, onde se tratava de grave enfermidade, e os seus restos mortais, e de seus familiares encontram-se em jazigo, no solo da Capela do Cemitério da Piedade, administrado pela Santa Casa da Misericórdia desta Cidade.
Era filho do imigrante italiano Giaccomo Vaccarezza, casado com Maria Thomazia Vaccarezza, que se estabeleceram em Cachoeira, fundando uma serraria e um moinho de milho.
Casou-se com Gabriela Cândida Massena, que passou a chamar-se Gabriela Massena Vaccarezza, com a qual teve os seguintes filhos: Almerinda Massena Vaccarezza, Letícia Massena Vaccarezza, Marietta Massena Vaccarezza e Cândido Massena Vaccarezza. Em 1988 formou-se na Faculdade de Medicina da Bahia e, dois anos depois, em Farmácia, especializando-se posteriormente em Oftalmologia, na França. Quando seu pai sentiu o peso da idade transferiu-lhe a empresa, que, por ele, foi modernizada com maquinário importado da Europa. Influiu decisivamente para o desenvolvimento da Cidade da Cachoeira, do ponto de vista político, social e econômico, deixando, assim, com o Cine Theatro Cachoeirano, um importante legado cultural, que é parte integrante da história desta Cidade Heróica, exemplo e fonte de inspiração para as gerações atuais e futuras implementarem o progresso, a inclusão acadêmica e o indispensável fomento ao imenso potencial turístico de todo o vale do Rio Paraguaçu, fortalecendo, com isso, um novo conceito de produção de riqueza e empregabilidade para esta abençoada região do Recôncavo.